Vou para o outro Algarve

onde areia é torrão

onde as ondas são verdes

onde as osgas passeiam

nas paredes brancas

onde o calor se tapa

onde o fresco escorre da fonte

onde o sol liberta quando se deita

onde a lua brilha sem concorrência 

onde as estrelas são tantas

e tão juntas que são rendas brilhantes

onde as sopas de pão 

com tomates e ovos sabem a pão

a tomates e a ovos

onde se dorme do pôr ao nascer do sol

onde a escrita é pensamento

onde a ribeira é spa

onde os pássaros livres chilreiam em bando

onde o galo canta

e ninguém o manda calar

onde o cão fala à noite

e dorme de dia

onde os sons da noite

são o cantar dos grilos

onde as cigarras chamam ao recolhimento

onde a conversa amigável se prolonga

onde o amor não tem som

e beijos aquecem

onde se ouve até amanhã se Deus quiser

onde se diz até que a gente se veja.

Joaquim Vairinhos- Retalhos Poéticos do Quotidiano (60 poemas)