Sobre o livro

"Poemas da Ilha do Sândalo e outros Versos" não é um livro bilingue. Este poemário, que nasceu sob o feitiço da Ilha de Timor, é fruto de uma mestiçagem de línguas e culturas. Os seus versos brotam no idioma que eles próprios escolheram como língua materna, o espanhol ou o português.

Nestas duas línguas ibéricas, estes poemas percorrem diversas geografias humanas e terrestres, na linguagem universal da Poesia e com a liberdade que lhe é inerente, numa viagem com múltiplas paragens, como o amor, a saudade, a memória, os poetas, a lua, a mulher… e um destino perpétuo: a beleza incomensurável da Ilha do Sândalo, o lugar de onde nunca mais se regressa, Timor-Leste.

Uma mulher de sal

Uma mulher de sal vive nas águas
deste mar de Timor turvado e manso.
Os pés descalços, duas raízes na areia,
as verdes mãos, dois ramos de palmeira.

Cheira a luta e cheira a maresia,
tem nos olhos a luz das alvoradas
e na cintura, molhada pelas ondas,
a música do mar lenta e saudosa.

Leva ao colo um saco pendurado,
leva ao colo o peso de uma casa,
sete bocas abertas como flores,
coloridas de riso e de inocência.

No fim do dia as duas desaparecem,
mulher e tarde de mar desvanecidas.
Ao colo levam o seu saco de algas,
ao colo levam o peso de uma casa…

(Poemas da Ilha do Sândalo e outros versos- Amelia Bravo Vadillo)

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