Leia aqui o artigo de Aragonez Marques na revista Lusitano de Zurique- Fevereiro 2021

24-02-2021

DO NOSSO CANTINHO PARA O VOSSO CANTÃO

Crónica

Cuidem-se!

Sei que devem estar fartos de ouvir falar de pandemias. Ao nosso cantinho, poucas ou nenhumas notícias chegam do vosso cantão.

O não estar na Comunidade Europeia retira-lhe o palco.

Pois por aqui, isto vai de mal a pior.

Hoje foi decretado o encerramento de todas as escolas e desta vez sem ensino à distância.

Completamente fechadas da pré-primária até ao ensino universitário.

São duras as novas medidas só possíveis devido ao estado de emergência limitador de liberdades.

Idas aos supermercados só uma pessoa, se forem duas no carro, a guarda manda parar, onde vão?, comprar ao supermercado, duas pessoas não podem circular, a minha mulher não tem carta de condução, para trás, fica a senhora em casa e compra você.

Ponto final.

Proibição total de sair dos concelhos, tenho que fazer a inspeção do carro aqui não há, volte para trás ou é multado.

Na rua? Só para ir à farmácia ou passear o cão perto de casa.

Serviços públicos só por marcação mas, as linhas telefónicas estão sempre ocupadas. A das Lojas do Cidadão também...

As crianças até aos doze anos, para não ficarem sozinhas em casa podem ficar com um progenitor, o Estado paga 60% do vencimento, ou isso ou nada, e se houver um em tele-trabalho, ninguém já paga nada.

As pessoas abusaram no Natal onde durante uma semana puderam correr o país, almoços, jantares, aqui e ali, compras em tudo o que era Centro Comercial.

Pois é ... fora os azares...

Uma carrinha que transportava vacinas, com motas da GNR atrás e à frente, seguranças contra alguma máfia que as pudesse roubar, despistou-se, de rodas para o ar na auto-estrada.

Uma enfermeira ontem, com excesso de trabalho, desapareceu misteriosamente de casa para o novo turno da noite, ninguém sabe onde está, apesar das televisões mostrarem o seu rosto.

Também esta semana um homem morreu dentro de uma ambulância, numa enorme fila de várias, ao fim de três horas de espera.

Rebentam pelas costuras os hospitais, há camas em pavilhões desportivos, mas não há pessoal médico.

Pagamos anos e anos de más políticas acumuladas. Desde a de como sovinas, a Ordem dos Médicos, não permitir a abertura de mais Universidades de Medicina, onde, devido à procura, um jovem teria de ter médias de 19,7, abaixo disso ficavam fora e os que podiam iam para Espanha tirar Medicina. Em Portugal criaram uma casta, onde ser médico era ser Deus. Hoje acabam mesmo por o ser, pois devido ao estado caótico dos hospitais, são eles "eticamente" que decidem quem vive e quem morre.

Os mortos são tantos que os hospitais têm contentores frigoríficos para guardar os que a doença apanhou. As agências funerárias, agora pomposamente chamadas Empresas de Enlutamento, não conseguem cremar nem enterrar, havendo cadáveres armazenados há seis dias esperando vaga, sem um adeus dos familiares.

Por milhão de habitantes somos o país com mais contágios e mortes do mundo. As eleições para a Presidência aquecem, mais um momento de ajuntamentos, que a democracia conseguiu vencer. Vocês podem votar? No cantinho pouco ou nada se sabe de vós.

Com o governo de Passos Coelho, foram os jovens convidados a sair do país, pois aqui com a Troika, não havia trabalho. Obedientes foram, a maior parte enfermeiros, para Inglaterra e Irlanda.

A falta que nos faziam hoje...

Mais notícias, vos podia dar, deste vosso cantinho, mas com a fome, a miséria, o desemprego e o trabalho escravo, prefiro dar-vos um conselho.

Deixem-se estar, não voltem tão depressa, não por vos não querermos abraçar, mas porque vos queremos proteger.

Mais coisas, muitas, tinha para vos dizer, mas não posso ultrapassar um determinado espaço da vossa/nossa revista.

Gostava de saber coisas daí, deixo-vos um mail:

seisfilhas@gmail.com

Contem-me coisas do cantão que divulgarei no cantinho. Falem-me de assuntos que queiram ver escritos aí, e fá-lo-ei.

Com uma nova direcção da revista, poderemos iniciar uma nova experiência.

Sorte aos que sairam.

Sorte aos que ficaram.

Cuidem-se!

Aragonez Marques