Até sempre, Joaquim Vairinhos!
O poeta que se alimentava de mar, de pedras, de lua, de espumas, de rosas, de gaivotas, de areias e de ventos...
Até sempre, Joaquim, os poetas nunca morrem!
Não há muito falávamos da vida, de novos projetos, dos filhos, da luta que mantinhas, da homenagem que no dia 1 de fevereiro recebeste por ser um dos louletanos que contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento e projeção deste território e onde, desde esse dia, o Pavilhão Desportivo Municipal de Loulé leva uma placa com o teu nome. Mas falávamos, como sempre, sobretudo de Poesia…
Soube agora, só agora, que partiste ontem e não posso imaginar-te noutro lugar que não seja o mar, sempre o mar...
Escolhi, por isso, estas duas fotografias para falar contigo, outra vez, como sempre, sobretudo de Poesia… e, de repente, vejo as ondas do mar no teu cabelo e a tua força e o teu canto constante à liberdade nas ondas do mar!
Por isso, só posso imaginar-te lá neste instante, no infinito das águas, no vaivém destes versos:
É um gosto pisar as pedras do mar
Deixar os olhos navegantes
Espraiarem-se pela manhã nascente
…
Amanhã caminharei contigo
Buscando a paz nas marcas
Da areia da praia.
Joaquim Vairinhos
(Excerto do poema "E um gosto pisar as pedras do mar" do poemário "Grito Só Silêncios nas Asas do Verbo" - Filigrana Editora-2019)
Um dia…
Um dia, Joaquim, telefonaste para mim e disseste-me "Amelia, quero que escrevas umas palavras em espanhol para o meu próximo livro". E eu fiquei honrada pelo convite e, ao mesmo tempo, muito assustada com tamanha responsabilidade. Hoje, fui à procura desse texto, escrito para o teu último livro "Retalhos Poéticos do Quotidiano (6o poemas)" e gostei do que lá escrevi porque no fim, é isso que o poeta é: um sobrevivente!
Sei que encontrarás a paz nas marcas da areia da praia!
Para ti, o nosso abraço!
Oí decir que hay tres clases de individuos: los que viven, los que mueren y los que están en el mar.
Para Joaquim Vairinhos el mar no tiene paredes, ni palabras, en el mar los ojos ven lo que el sueño alcanza. Toda su Poesía está bañada, inundada de mar y, por eso, toda su Poesía está impregnada de sueños.
Sueña el poeta con un presente limpio, sin cinismos hipócritas, sin la burocracia que nos aprisiona, sin la cotidianidad que mata el amor. Sueña el poeta con una mancha de café en una falda verde, sueña con el clavel, con la rosa y los jilgueros y sueña con el mar, la mar, el mar, ¡solo la mar!... como aquel marinero en tierra cantado por Alberti.
Joaquim Vairinhos no escribe poemas, escribe Poesía. Una Poesía a veces impaciente y siempre sentida, una Poesía crítica y necesaria que busca libertar al oprimido, recordar al olvidado, devolver la dignidad a los humillados. Una Poesía que nos muestra los infiernos de este mundo en destrucción, sus demonios y sus bestias, la pesadilla de una humanidad carente de valores y de ética.
Es su Poesía una Poesía de claroscuros, versos de luz y de sombra, de vida y de muerte, de pasados utópicos y futuros condenados. Una Poesía que se construye entre el sueño y el desasosiego, una Poesía de memorias, pensamientos y viajes a diversas geografías, terrestres y humanas.
Como pasajero de este barco a la deriva en que se transformó nuestra existencia, Joaquim Vairinhos será siempre un superviviente. Es este Retalhos Poéticos do Quotidiano un manual para naúfragos, donde la Poesía y los sueños se yerguen como absolutamente fundamentales para vencer a los Adamastores y a sus tormentas.
¡Sálvese quien pueda!
Amelia Bravo Vadillo