Assinalamos o Dia Mundial do Livro com Mª Luísa Tavares Moreira

23-04-2019

Dois pequenos textos de uma escritora portalegrense que em breve poderá fazer parte da família Filigrana Editora.

Maria Luísa Tavares Moreira é luz de uma geração que lhe passou pelas mãos como professora de Português no ensino secundário em Portalegre.

Com textos publicados na imprensa regional, chegou a hora de editar "crónicas da prateleira", como lhes chama.

Iremos dando notícias.

IMPOSSÍVEL

Quem nunca viveu um amor impossível, não sabe o que dói amar na clandestinidade. Porque tudo é do avesso, quando isso acontece! Um amor impossível só o é - impossível - aos olhos dos outros. Dos que opinam, julgam e condenam. Para quem ama, o Amor é sempre possível, porque real. E dói para cima de imenso, quando visto de fora se veste de impossibilidade!

A gente distrai-se e, pimba! o Amor instala-se, ignorando as regras sociais, as línguas venenosas, e as dificuldades do quotidiano. Instala-se, acomoda-se dentro de nós e toma conta da cabeça, do coração, e até das pernas e dos braços. Sim, porque temos vontade de correr para quem amamos e de estreitar num abraço quente esse outro parte de nós.

Não devia haver amores impossíveis!

A vida devia ser boazinha, escancarar as portas da aceitação, e deixar que os amores impossíveis acontecessem sem impossibilidades. O Amor impossível, além de nos rasgar por dentro, humilha-nos para lá do razoável. Não é justo, mesmo! Quando eu mandar, vou legitimar todo o Amor verdadeiro e, então, não haverá mais impossíveis entre duas pessoas que se querem por dentro e por fora!

BONS CONSELHOS E CASTANHAS

Sabe para que quero estas castanhas, são as da Índia... Eu não sabia. Mas a senhora era simpática, eu estava só a ler, deixei a conversa correr. Será para combater as traças? A minha mãe usava-as para isso. A senhora sorriu, misteriosa. Não... servem para limpar as pessoas dos males que os outros lhes querem. Metem-se num frasco, só uma para cada pessoa, e espera-se. Se houver males, mau-olhado está a perceber, elas incham, rasgam-se e deitam fora. Fica uma água castanha, suja, que não se pode deitar fora... Bebe-se? A senhora sorriu. Não, que ideia! (Acho que ela pensou que estupidez...) Enterra-se a água e a castanha. Não quer levar?

Eu quis. Trouxe para mim, para as minhas filhas e para os meus netos. Não é que eu seja supersticiosa, mas prevenir nunca fez mal a ninguém!