AVELINO BENTO
Breve biografia:
- Avelino Bento nasceu em Sacavém a 16 de outubro de 1949.
- Professor Jubilado do Ensino Superior.
- Doutor em Sociologia da Cultura (Especialização em Comunicação e Arte)
- Actor - Encenador.
- Animador Sociocultural.
Obras publicadas com Filigrana Editora
Trilogias Poéticas
Trilogias Poéticas é o terceiro livro de poemas do prolífico Avelino Bento. Nele, o poeta debruça-se sobre as coisas do mundo e oferece-nos três perspetivas diferentes sobre cada um dos temas que compõem a obra (três, sempre o três, o número considerado divino por excelência, o número sagrado, o número que corresponde ao arquétipo do "Artista", à força expressiva no seu máximo esplendor).
Três perspetivas diferentes, dizia eu, que podem multiplicar-se de forma infinita conforme o sentir e a experiência de cada leitor. Porque ninguém lê o mesmo poema. Ele renasce com cada leitura, cada vez que se consegue transmitir a outro ser humano aquela emoção que invadiu o poeta.
O poema será então do autor ou do leitor? E mais, será o leitor quem lê o poema ou será o poema quem lê o leitor? Ler é alma que se abre às palavras, diz o poeta num dos versos assentes nestas Trilogias Poéticas.
É por isso que só saberemos ler o que já está de alguma forma
dentro de nós, que só poderemos decifrar a mensagem poética se já
temos, de alguma forma, a Poesia dentro de nós.
Assim, de alma aberta, o poeta lê o terreno e o divino, aquilo que
nos circunda e que o atravessa como um raio. Assim, de alma aberta,
mostra depois essa descoberta ao mundo, através da palavra.
(Excerto do Prefácio de Trilogias Poéticas, de Amelia B. Vadillo)
QUARENT´(ENA MAIS POEMAS!)
Oh mar...
Não são só lágrimas de Portugal
que fazem de ti o sal oh mar
do nosso descontentamento
este sentimento tribal
que tem um percurso extenso
não faz de nós heróis oh mar
do mundo
e da humanidade
tu que sabes dar
um espaço profundo
e fundo
à eternidade oh mar
Separas continentes oh mar
sem dividires as gentes
suas línguas vais ouvindo
ao construíres correntes
as fonéticas vão bramindo
fundindo-se no teu som oh mar
OS ÚLTIMOS PUTOS NEO-REALISTAS
(…) as histórias que vão a ser contadas fazem parte de um reportório de comportamentos de uma geração que ainda herdou uma cultura de meninos na rua. Não falamos aqui de "meninos da rua". Estes eram os mais marginalizados, os pobres, os sem-abrigo, os sem cuidados, os que não tinham horas para regressar a lugar algum. Eram o sublupem do lumpemproletariado. Os outros, os pobretes e alegretes, tinham casas, pequenas é verdade, iam-se alimentando em função da féria semanal que os pais levavam para sustento da família, às vezes festejavam os anos, tinham horas para regressar ao lar e até iam estudar com o sacrifício dos progenitores. Eram estes miúdos que brincavam e faziam as suas traquinices na rua.
(…) Estas histórias, com um misto de ficção e realidade, aconteciam entre 1958 e 1964, no perímetro que envolvia as freguesias de Sacavém, Camarate, Unhos, Moscavide, Olivais, Cabo Ruivo, Marvila, Alvalade e Campo Grande. Mas que poderia ser em qualquer parte do país: no litoral ou no interior; nas grandes ou nas pequenas cidades.
(…)
(Excerto do Prefácio- Avelino Bento)
A GERAÇÃO QUE QUIS SER FELIZ
11 de janeiro de 1971, dez horas da manhã, Cais da Rocha do Conde de Óbidos, em Alcântara. Centenas de militares de rendição individual despedem-se dos seus grupos de famílias e amigos. Mães chorosas, pais conformados, avós tristes e amigos divertidos tentam distrair aqueles de quem se despedem. Uns, já casados e com filhos, abraçados às suas famílias. Outros, abraçados por mulheres jovens que poderão ser namoradas, esposas ou irmãs. Outros, ainda sós, sem um abraço de cumplicidade ou de amor. Observando bem, vê-se uma ou outra mulher jovem, quase escondida, olhando com tristeza para alguns grupos. Porventura antigas namoradas trocadas por outras ou por nenhuma. Mas há uma em particular que chora compulsivamente. Um choro sem som, amparando o seu ventre com ambas as mãos. Hesita várias vezes se se dirige para um grupo. Esta indecisão não pode demorar muito, se não, será descoberta. Decididamente não, não se aproximará e, anulando a intenção de avançar, inverte a marcha com uma tristeza profunda, desparecendo no meio da multidão.
(Prólogo - Avelino Bento)
NO RIO... ONDE COMEÇA O MAR
ESTÁ NO RIO... ONDE COMEÇA O MAR
Contrariando M Sá Carneiro, o poeta,
por favor no batam em latas
quando um dia eu morrer!
Deixem-me ser o profeta das graças e desgraças
que ainda vão no amanhecer.
Rejeitando Baden Powel na canção,
não me enterrem na lapinha
quando for momento de partir.
Quero mostrar devoção
pela vida que é só minha.
E, se puder, deixem-me rir!
Evoco a liberdade
que me permite escolher
para onde irei repousar.
O caminho da eternidade
que se inicia no morrer
está no rio... onde começa o mar!
Avelino Bento